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No bananal Portugal
domingo, agosto 29, 2004
Cesare Pavese, a doninha que me roi as entranhas
O que mais me assombra no diário de pavese não é o seu carácter literário. O que mais me assombra e assusta é descobrir tantas vezes a minha concordância absoluta com as suas palavras. O que mais me assusta é poder dizer tantas vezes ao lê-lo: isto podia ter sido eu a dizê-lo!
Escutar Sócrates
Dizia Socrates que o seu maior feito em vida terá sido ensinar que uma vida sem reflexão não é uma vida digna de ser vivida.Disse-o cinco séculos antes de Cristo, e não deixa de ser irónico que neste mundo moderno cheio de maravilhas técnologicas e que nos obriga a constantes recordes de velocidade; para trabalhar, para deslocar, para falar, para amar, nos afaste cada vez mais desse silêncio e calma não necessário para a reflexão sobres as coisas. O mundo moderno não quer pensar. O mundo moderno quer chegar depressa e primeiro, mas não se sabe bem a onde e porquê.
sábado, agosto 21, 2004
Eis uma noticia do Jornal digna de figurar no prólogo do filme Magnólia:
Um romeno pediu ao patrão para ficar em casa dado ser sexta-feira 13 e ser supersticioso.
Acabou por ser picado em casa por uma vespa particularmente rara na Roménia e que o matou de forma fulminante.
Deus do céu, que escritor se lembraria de tal coisa!
Existe um estranho e mórbido sentido de humor na vida que nos leva à suspeita de sermos actores de uma peça para um ser exterior.
domingo, agosto 15, 2004
A lei da dúvida
A mais ténue sombra de dúvida é o suficiente para fazer soçobrar qualquer empresa humana. Deves evitar assim a dúvida com se fosse a própria peste.
Eis a lei para nos governamos no mundo longe do caminho da derrota.
O segredo de um coração tranquilo
Ocorreu-me as palavras para descrever o segredo de viver uma vida de coração tranquilo, sem sobressaltos ou tumultos de alma. Devemos aprender a viver como se fossemos a consciência de uma memória. Viver o presente como apenas o prólogo de um prazer infindável futuro.
Eis o segredo dos místicos.
Sinal de maturidade
Será sinal de maturidade ou mera preguiça não nos atrevermos a foder alguém simplesmente porque não queremos ter de inventar uma desculpa pós-coito? Ou talvez seja apenas o pudor do cirurgião em cortar a carne de alguém familiar. Foder pelo seguro é no fundo foder longe de casa.
O estoico do Resort
Confissão junto do azul translúcido de uma piscina com uma ceveja fresca na mão.
« Não vou cometer a asneira de me comprometer apenas porque devo procriar ou garantir que terei alguém para me mudar as fraldas quando a altura chegar. De qualquer forma, nesta vida a única coisa que garantimos com as nossas acções é o absoluto desconhecimento das suas repercussões. Quantas vezes lamentamos o mérito passado de uma acção que julgava-mos correcta, quantas vezes nos congratulamos pelas consequências de um disparate antigo?»
Regresso ao Gulag da alma
Temo regressar ao trabalho.
Não encontro nas minhas actuais funções nada mais de um rápido escorrega para um pântano da mediocridade e capitulação.
Como conservar a aparência de normalidade e de saudável ambição tão necessária para quem faz gincana pelos escritórios de espaços abertos das actuais empresas onde os seus funcionários se acotovelam e pisam ferozmente? Como manter longe a suspeita de que estou-me literalmente nas tintas para as guerras de corredor e para as vitórias de pirro de indices que ninguém compreende?
Em suma, como levá-los a acreditar que sou um deles, tropa fiel de um exercito que caminha para o torpor da alma sem um pestanejar, sem um queixume...
domingo, agosto 08, 2004
O Mundo por cima da cabeça
Gosto de navegar pela blogesfera. Encontro sempre tanta gente admirávelmente inteligente e criativa e, não menos louvável, cheia de preocupações éticas, que termino sempre a interrogar-me para que que diabo sou eu preciso?
Afinal o mundo virtual não é assim tão diferente da realidade.
LANTANA
Um homem sozinho diante de uma vasta paisagem. Um homem que perdeu tudo menos a aparência de uma existência. Apenas isso.
sexta-feira, agosto 06, 2004
O conto
Gostaria que regressar à escrita, esta tentativa não muito bem sucedida de blog continuo, é na verdade a prova disso. Mas esbarro sempre num muro maior que as minhas forças - a falta de assunto. Isto para não falar na falta de talento, que na verdade nunca demoveu ninguém no passado ou no presente, basta para tanto dar uma vista de olhos pelos titulos que se publicam nos dias que correm. mas a falta de assunto é fatal. Os dois juntos, a falta de assunto e de talento, será um pouco como pedir a um coxo que jogue a bola sem bola.
tenho por isso lido com mais insistência livros de conto na esperança de descortinar o segredo de transformar pequenos episodios, relâmpagos do quotidiano, em materia de escrita. na verdade o segredo será talvez em decobrir objectos ou gestos que possam adquirir o contorno de mitos ou arquétipos. um conto é um poema com palavras a mais. mas essa compreensão não me apróxima da fertilidade literária. na realidade, receio que pelo contrário me afaste, pois quanto mais consciênte nos tornamos da criação menos criativos arriscamos ser.
de qualquer forma tenho a esperança, certamente que ilusória, de que basta um conto verdadeiro mas o desfiar de um novelo de criatividade. ah, mas como me escapa esse primeiro conto, esse verbo que separou a luz das trevas.
O gorila, Sérgio Sant'anna
Quanto mais lemos mais nos damos conta que o nosso baú secreto de temas originais pouco na verdade tem de original. Creio que não serei sequer muito original nessa minha constatação. Quem já não terá ficado surpreendido por encontrar num livro pensamentos ou ideias que tomava como unicamente seus. Alguns, quem sabe, secretos e religiosamente guardados na esperança de verem a luz do dia nalguma grande obra inevitável mas sempre adiada.
Veio isto a propósito de um conto do sérgio Santánna, no conto " O Gorila" ( in O Vôo da Madrugada), de uma personagem, o próprio gorila que dá nome ao conto, na verdade um simples homem frustrado que faz telefonemas aleatórios para fugir da sua solidão. A mesma ideia já eu havia tido, muitos anos atrás, mas com cartas em lugar de telefonemas. Foi algo que sempre guardei, na esperança que pudesse ser acometido por algum talento que não vislumbrava em mim, para poder explorar a ideia.
A vantagem de vermos que não estavamos sozinhos numa ideia, e de alguém as trazer primeiro à luz do dia, é de que desse dia em diante estamos livres dessa espécie de penhora que pesava sobre nós.
Memória
Sempre considerei a falta desta uma maldição. Lamentava perder todos o factos que ia aprendendo como areia que escorrecem por entre os dedos. Não aceitava pacificamente que não pudesse possuir de facto aquilo que lia.
Contudo dei-me hoje conta, creio que não pela primeira vez, a enorme vantagem do esquecimento, pois permite-nos rever filmes de que gostamos quase com o deleite de uma primeira vez. Já não é a agradável surpresa de ultrapassar expectativas a cada cena, pois sabemos à partida que o filme no passad0 nos comoveu, mas conservamos a surpresa do enredo intacto, pois nada nos resta que uma vaga ideia, aliada agora à segurança de sabermos que não seremos desiludidos.
Suponho que poderia escrever um longo ensaio sobre o tema, numa abordagem mais séria, mas hoje não estou para aí virado. Estou certo que com o esquecimento natural um dia voltarei ao assunto como se fosse uma primeira vez, esperemos por essa vez.
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